sexta-feira, novembro 21, 2008

O intervalo

Não aguardaria uma vida inteira por momentos adequados. Quando me tornei só, constatei que as pessoas sós têm muito mais a si mesmas. Naquela escolha pela solidão me vi desesperada por libertar-me dos outros, por enganar a vida com expectativas pequenas a fim de quando minhas próximas conquistas acontecessem eu pudesse me impressionar como quem tem a loteria ganha. Todo esse processo durou doze meses, até eu voltar a me sabotar e novamente achar qualquer cara interessante quando era apresentada a ele. Eram amigos de amigos, vizinhos que eu nunca havia reparado ou mesmo uns colegas de trabalho, mesmo os mais esquisitos e rejeitados. Eu realmente estava só.
Foi quando num bar estávamos somente os três. Eu, o gordo careca à minha direita e o meu futuro próximo namorado. Eu tinha ido bem até então, dois semestres toda livre de amarras e cheia de auto-controle. Mas tambem sabia que após alguns minutos e uns copos de cerveja ele se aproximaria. Já havíamos nos notado e eu não pude deixar de reparar que o seu jeans era o meu favorito. Nada muito surrado, azul escuro e contínuo, a parte detrás da barra um pouco desfeita. Perfeito. A camiseta não me agradava muito, mas a barba ruiva e lisa aparada sob medida, os cabelos negros com alguns fios manchados de sol, todos esses fatores me permitiam imaginar que chegaria até mim com o melhor dos dizeres.
Quando se apresentou, seu nome era desses que eu já planejava combinar com o meu como tantas vezes já havia feito. O sobrenome não me disse, mas faltava pouco para pensarmos nos nossos filhos e a data de casamento. Ele sorria de lado e desconcertado como quem não quer falar de si. Fazia muitas perguntas e dissimulava quando eu as retornava.
Era do que eu precisava me reabastecer, já que o amor para mim sempre foi algo muito triste e prazeroso. E se ele pudesse demonstrar nessa singela troca de palavras que era incapaz de me amar por completo, mas que me desejava por inteiro, lá estaria eu, mais uma vez nos lençóis das migalhas. E esta, sem me boicotar, era a minha verdadeira realização.

sexta-feira, outubro 17, 2008

Garota-propaganda

Eu dou passos largos de fuga de mim mesma, já que entrei em tanta mirabolante complicação que eu sei, mais uma vez, terei que escapar. E a única coisa que me acalma é arranjar um assento no ônibus, qualquer linha, nem que seja o lugar dos velhos e grávidas. Aí o cobrador sempre me avisa o ponto, eu desço e pego outro em seguida. Vez em quando os olhos caem e, baixos ainda, eu penso na gente, e dolorida, eu apago o coração como aquelas lousinhas mágicas de quando a gente é criança e fica a tarde toda esfregando a ponta da caneta até ela fundir de cor rosa choque. Eu sei que as coisas se tornarão mais simples porque eu busco a perdição, estou sempre pronta para o término e não entendo como as pessoas conseguem estar trinta-e-tantos anos juntas ou trabalhar no mesmo lugar por dezessete anos. Para mim, essas pessoas foram postas ali, desse jeito sempre estiveram e não sei não, se o álbum de fotografias delas não foi burlado por algum ser maior que me foge à perspectiva.
Eu vivo no mundo alien, que se incomoda com os hábitos e os traços da rotina que não podem, não podem e não terão vazão para virar rotina. Porque eu fujo de mim mesma e não é preciso entorpecentes para saber que o meu dolorido inconsciente flutua dentro de mim e eu nunca o alcanço. A minha irmã diz que é culpa do sol na casa doze. Eu não consegui investigar o que significava isso por falta de website. E quaisquer que sejam meus motivos, eu volto pra terapia. Eu sou a garota-propaganda da terapia. Eu exijo que no meu mundo perfeito todos sejam os perfeitos seguidores da perfeição perfeita. E ai de quem, aqueles que sob desaforo à minha regência, escorregarem em erros crassos de seres humanos. Ai deles, não quererem enxergar. Porque enxergar sem ser míope dói e no meu mundo ideal, estar disponível para a dor é estar disponível para não ter retorno. E não ter retorno é o que coça nos que procuraram transcender de espírito. E um dia eu vou, eu vou te convencer.

quarta-feira, outubro 08, 2008

A queda

Também disseram que os mitos me ajudariam. Era o que eu lia no momento, eu sofria por não enxergar, procurava respostas em horóscopos e frases mágicas que imprescindivelmente surgiriam nas entrelinhas das minhas conversas rotineiras com qualquer pessoa com que eu cruzasse. Eu acreditava que daria certo, que ele mudaria, que eu faria todo aquele papel já ensaiado. Mas eu continuava doída e doida.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Tenho. Ponto final.

Tenho que fixar horário para escrever, sentar-me à frente do computador, sem café porque não tem pó e sem a xícara porque já deve estar quebrada hora dessas. depois eu não tenho tempo para enfermidades, não sei recusar propostas baratas, é só isso o que me dão mesmo, todas baratas, cinquentinha e tá resolvido. talvez não me dê o devido valor, mas é piegas e sem auto-estima espalhar isso por aí. depois tem o virar a cara e dizer que fui eu quem fiz primeiro. eu costumo fazer isso quando tem porralouquice na minha cabeça e só faço com alguns bem escolhidinhos a dedo, considere-se privilegiado se estiver na lista. e isso aqui é lista de reclamação, tá? só confirmando se dá pra entender. faz cara de quem concorda, mas nem importa, nem vou ficar sabendo mesmo. Ponto final.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Tem gente que ama à vista
Tem gente que ama em parcela
Tem gente, amor de cinema
Tem gente, amor de novela

segunda-feira, agosto 18, 2008

O homem nulo

Me cutucou o ombro e apesar de odiar ser cutucada, me disse logo de imediato que era importante e resolvi me espichar pro papel. Dizia "Clínica dos Olhos" e embaixo algumas informações sobre ele, o paciente que me cutucava e indagava qual era o endereço escrito ali. E apontava no lugar certo, porque apesar de não saber ler, sabia que perto de uns números viria algo parecido com rua tal. Eu lhe disse Rua Aurora, mas avisei que não sabia onde ficava. Me arrastou uma expressão canino-decepcionada. Ora, eu sabia ler, mas ainda não era o google maps. Mostrou-se ainda mais ansioso, alisava a camisa boa e branca, a escolhida pra consulta dos olhos e observava com cabeça de ventilador as avenidas, todas elas com letras escritas compridas, placas grandes e nada compreendidas. E pra que precisava de olhos bons se não podia ler? Pediu-me licença e espremeu em mim sua sacola plástica. Foi até o cobrador e este lhe direcionou: é no próximo. Desce e vai pra esquerda. Obedeceu inquestionavelmente. Não sei se foi pra esquerda. Não sei nem se ele foi mesmo ver os olhos, se o papel era pra ele, se era ele o paciente, se queria enxergar algo além de ruas sem nomes. Ele era, pra mim, o estrangeiro eterno, o homem que nasceu e morreu em país alheio, que não falava a língua do meu mundo. Ele era o homem nulo.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Entranhas Estranhas

Ainda não entrei em bifurcação
e reconheço, no entanto,
que este momento há de chegar
quando as minhas duas histórias,
em universos paralelos irão coexistir
mas talvez o meu corpo,
o meu tão leve-pesado corpo,
apenas sinta uma delas e a outra,
esta irá se distrair num lugar tão próximo
que não saberei enxergar

Passivo-mudo

Escrever é uma deficiência física
O autor mudo tem voz que não existe
Os dedos comandam um evento independente
Rabiscam, guardam, deletam e assinam
Palavras infiéis ao corpo presente

segunda-feira, agosto 11, 2008

Entre a crise e o Artista

Eu me lembro de quando as formas se tomavam quase que autonomamente, sem a minha breve consciência e eu apenas assinava perto do rodapé. Naquele tempo eu ainda não havia decidido assinatura qualquer e rabiscava por horas alguns traços arredondados, que supostamente me dariam um futuro status como artista. Era, então, preciso ter nome forte, nem que fosse necessário nascer novamente, recriar minha identidade. Afinal de contas, quantas célebres pessoas são designadas pelo real nome quando expõem sua arte?

Foi quando me levantei e não fui famoso. O lucro não sairia de histórias de cinema bem-sucedidas, os livros tão queridos e capas imaginadas, os sonhos anotados e a cabeça desconcertada... Nada viria. Nem as noites de porre e isolamento pleno, nem os diagnósticos mal feitos e amores mal lavados ou qualquer ponta de desequilíbrio me levariam a ser conhecido.

A cabeça travou por alguns segundos, olhei para os lençóis que nunca troco da cama, abri a enorme janela suja e lá embaixo o sempre poste de luz. Os prédios não passavam de imundícies, o ar paulistano era somente poluído, os antes desgraçados vendedores de alma tornaram-se apenas pessoas preocupadas com dinheiro e beber a água velha da geladeira não era mais sinestésico e a cozinha de chão de barro não me lembrava infância alguma. Eu queria sumir de mim, eu queria ser aquilo de antes e tive dúvidas se realmente tinha sido artista um dia.

Resolvi me levantar aos poucos para diminuir a tontura. Os pés descalços no chão de tacos. Tropecei em dois soltos que quase me voaram o pijama. Isso me fez acordar abruptamente: estava acontecendo? Um banho veio em mente que talvez trouxesse minha poesia de volta. Agora era o momento de o chuveiro levar o pesadelo pro ralo. Esfrega, esfrega e o sabonete só espanta o nojo momentaneamente. Corri pra fora do banheiro e encharquei o corredor inteiro. Vesti o primeiro casaco do monte, me sequei em um par de calças velhas, as vesti, destranquei a porta e desci andares de escada. Apalpei os bolsos no descer. Térreo e encontro o vizinho. Tem um fósforo? Tinha.

Tossi alguns velhos escarros. Eles me recordavam a poesia. Mas ainda não era ela. Quem sabe abrir a porta de entrada e esbarrar em algum desconhecido, subir e escrever sobre isso?

Esbarrei de propósito e logo considerei bater o barbudo na cara. Homem estúpido, dia ensolarado sem nada, pessoas porcas mijam nas ruas e eu vou me deitar agora. Aqui, nessa calçada de saco-de-lixo pra um homem como eu, homem-lixo, homem-mijo, homem sem nenhuma razão. Terminei o cigarro, joguei-o na poça encardida que me refletia. Um cão se aproximou e lambeu a melação. Não me passou nada. Respirei três vezes e ergui a cabeça pro céu. O sol me fez espirrar e decidi: hoje eu vou dormir. O dia não veio pra mim.

segunda-feira, agosto 04, 2008

As minhas Lágrimas de Dois Segundos

O dia não me permite lágrimas por mais de dois segundos. Às seis da manhã, o buraco no estômago e vai a primeira leva de dois. O corpo frágil se arruma então, pra um dia inteiro de contas regadas a pingos curtos. Às nove, o disfarce no metrô, ler o jornal com a cara enfiada, mas ninguém percebe mesmo as minhas lágrimas de dois segundos. O trabalho corre seco, fingido de sorriso. E tem a saída, voltar para o ônibus, caminho inverso. Outro cobrador, ótimo. Podem-se ir mais dois segundos. O andar arrastado pelas ruas que me fazem pensar nesse choro à prestação, causam meus próximos dois segundos. Comprar comida no nosso varejão, parar em frente ao prédio e o carro não estar lá me surram dois segundos. Abrir a porta do apartamento e não ter barulho, suspiro. Olhar pra tudo e pra nada, porque tudo foi retirado... Assustada, mais dois segundos. Não comer, não comer, não comer. Banho, água com dois segundos. Ir até a locadora, dois segundos. Andar na Paulista, dois segundos. Não receber telefonema, mais dois segundos. Subir pro trabalho novamente vestida de contente, cansa mais ainda. Fazer frio no ponto de ônibus e eu sozinha. Pensar em voltar pra casa, dois segundos. Todo o movimento noturno, mais triste sem o sol, a falta do carro, o elevador, a porta trancada, o não-barulho, a cama branca, eu deitada. Finalmente respiro: é a vez das minhas lágrimas mil vezes dois segundos.

quinta-feira, maio 15, 2008

Dois meses

Que os absurdos venham. Entrar numa igreja, havia anos, quanto calafrio, emoções atrasadas, culpa, fracasso, mais culpa e o sumir. Quando eu sair dessa igreja vão me ligar. Ligou no meio das botas felpudas e uma bixa me dizendo olha esse casaco é o seu número, quarentinha apenas, leva, fica à vontade. A mãe do outro lado você me ligou, minha filha? Devo ter discado sem querer, mas é isso, dois meses esperando. Dois meses nesse mundo não é nada, minha filha.
Pois é. Vai explicar isso pra minha cabeça.

sexta-feira, maio 09, 2008

I don't know what I did
to make you feel so close to me

quinta-feira, maio 08, 2008

Hildinha, já faz dois dias

Os dias assim são meus dias que espero. Como todo final de mês, passam-se as contas, com ou sem, e não me diz que não sabe, porque sabe, estou falando de você. E por aí, eu sei também que já andou por outras casas, agora diz que vai ficar aqui. Não te deixo ficar, abro as janelas, te confundo as pernas. Te amo, te amo. Te deixo ir. E me corto, com todas as facas do cliché, o coração.

terça-feira, maio 06, 2008

Hilda

Tão recente em mim
Essa parte me foi

terça-feira, abril 15, 2008

Prognóstico do amor que não pode entrar

De repente o cliché que não me abandona, revivo tudo como sempre foi. Pela manhã, aqueles pés que encostam nos meus já foram outros pés e o casaco esquecido em casa, parei em frente a ele, já tinha sido outros casacos. A cor dos olhos, os cotovelos roídos pelo frio. O jeito de se olhar no espelho aguardando aprovação. O levantar da sobrancelha, só saber aquela. A falta de senso do ridículo, que linda falta. Quando o dorso desnudo, sou feliz para sempre. E eu, esbaforo os comentários maldosos iguais, não me queria igual. Explico mais uma vez por que, me quantifico, o crucifico, me abdico, o desclassifico.

segunda-feira, abril 14, 2008

De tudo o que dói
dói mais gostoso em mim

Sobre o passado

Não existe o estéril ou nenhuma dessas palavras que aprendi logo cedo e nunca pude experimentar. Aliás, houve aquela única vez em que me acreditei pura, assustei meus pais e disse que freira seria. Assim, aos catorze anos de idade, migrando inconstantemente entre a lascívia curiosidade sexual e a divindade lúcida transparente no mesmo corpo. Eu adolescente, era como molho quatro-queijos depois de meia-hora. Não demorava para me transformar em algo que não era a princípio e ir tomando formas irrenconhecíveis ao longo do percurso.

Freak Show

As tesouras se arrastavam pelas minhas paredes, mas não acordei com um grito meu. É este vizinho maldito, os chãos que são de taco e as portas que ele bate noite afora. Sonhava tão bem, andava de bicicleta ergométrica e a platéia me elogiava solenemente. Olha que percurso! Vai longe essa menina! Quanta seda, quanta pompa! Palmas, mais palmas! E esse vizinho, o maldito. Me acorda nos segundos entre o corte das lâminas e o majestoso. Não sei o que se passa com os homens de pescoços peludos. Aliás, temo que não seja apenas na região tão superior do seu pequeno corpo. Ele deve ter pêlo nos dedos dos pés. Desses fios longos, tão longos, que cobrem as unhas. E ele não respira direito porque sem unhas, somos uns bons soluços de gente. Talvez seja um ser solfejante, assistente de maestro de orquestra sinfônica. Um anão que conserta órgãos de igrejas. Ele não é certo. Aparece sempre de madrugada e diz que viu a minha luz acesa. Ora, eu moro no escuro. Não cansado, vem checar aos meio-dias. Sonda a minha casa e por muito pouco não escorrega por debaixo da porta e pega a minha correspondência. Não há, não há liberdade em apartamentos. Os gatos caem das janelas, as pessoas são jogadas andares abaixo e viram notícia de telejornal diário. Os anônimos, pobres de nós, ficamos com os vizinhos bizarros. Ó.
Outro dia, não tão outro assim, subia o elevador acompanhada de um careca que carregava uma boa bandeja de alumínio coberta de macarrão sem molho. Desceu dois andares abaixo do meu. Deve ter uma namorada gorda de unhas vermelhas e longas, que enfia a cara no spaghetti e mergulha o careca nos peitos imersos em molho de tomate. Goza, sorridente, com uivos de serpente sendo enforcada.
O zelador, ainda bem, possivelmente nunca lerá o meu pesar. Pois está tão entretido com seu enorme balde de maionese que enche de água suja e sabão em pó. Desce os andares esfregando os degraus, chega no térreo e sorri como quem soubesse para que nasceu.
Não contente com apenas um edifício de freak show, passo minutos olhando as paredes sujas da rua, que devem abrigar mais uns bons pares de homens-elefantes.

sexta-feira, abril 04, 2008

O bipolar

Principalmente quando me sinto assim e nem gostaria de ter que explicar, mas essa coisa de escrever quando está tudo indo muito bem não dá certo, nem um pouco certo porque veja bem, escrever é um grande sistema bipolar. Não tem nada de talento, são as dores intensas, muito maiores do que o quanto deveriam ser sentidas e as alegrias eufóricas, que passam por tão pouco por debaixo da porta ou um telefonema que chateia e te leva de volta para a montanha russa do depressivo. E você ri tanto, tanto mais do que os outros e os cachorros, até os bem feios são muito mais lindos. E você vê que algumas pessoas também são assim, mas ninguém nesse mundo divide nada além de lençóis e cheiro e às vezes uma coca-cola sem gás. E tem essas gentes, eu me impressiono, elas não sabem dizer se faz frio ou não, se o inverno é chuvoso ou como são os ventos do verão. Onde vivem que eu não vivo? Porque eu sei que quando o nariz escorre pode ser de pimenta ou de alguma coisa que foi entrando pra dentro da casa e depois pra dentro do corpo. E esse corpo, tão insatisfeito consigo, coitado do corpo, que é usado de armadura para não entrar o amor que chegará. O corpo acha que não porque é um corpo bipolar, ele não sente como os outros corpos, ele escreve as dores e, especialmente as dores, muito grato, estas lhe dão muito prazer.

quinta-feira, março 27, 2008

Meu apartamento branco

Digo sim, sim, sim. Vem pra mim, estou carente e não sei mais se perambulo por aí reclamando da ausência ou agradecendo cozinhar pelada, sem vizinho nenhum ver, dar pulos na cama, tirar os fiapos que se enfiam no edredon. O meu quarto é todo branco, o apartamento todo branco, todo control freak. Acho lindo, o branco é a intersecção de tudo, do meu sangue que ainda não vazou nele, pois eu tomo muito cuidado. Sou assim, sem pausas e respiros que sempre me dizem serem necessários para contar histórias, sejam elas verdadeiras ou não. As minhas são normalmente metade do que acontece e a outra sou eu olhando o par de suculentas ali na janela de onde não desgruda um adesivo que até o meu pai tentou(!). E o adesivo e eu somos como um casal porque já vi que ele vai estar lá todos os dias quando eu retornar. Talvez ele seja o único que me veja nua e isso é o máximo da nossa intimidade, bem como um casamento branco pra uma casa branca. A minha persiana é clara e de todo o branco e a minha mãe branca argumenta: eu disse que você não iria conseguir dormir. Agora arranja um desses tapa-olhos que a gente pega escondido em vôo de segunda. Aí nem precisaria me preocupar com quem dorme ao meu lado. Mas eu nunca faço essas coisas porque eu costumo dormir com quem eu queria mesmo ver de manhã. Eu não erro nessas porque já que decidi morar sozinha, pelo menos eu devo dormir com quem escolhi. Estava cansada de ir pra casa dos outros. Agora eu olho, o meu edredon é caro, querido. É branco, põe você também um pijama branco, vamos nós, fazer as coisas dessa cor-sem-cor, sem fluídos coloridos, por favor. Eu quero é sossego. Isso. Agora aperta aquele botãozinho e desce. Acabou. Vou lavar com cândida. Voltar pro meu adesivo-marido. Passou.

terça-feira, março 11, 2008

Arranha-céus

Meu mundo por um par de cortinas de linho. Arranhar cortinas, ponto. Arranhar poltrona, dois pontos. Napoleão, com pompa ou sem, me aconcheguei muitas vezes num pinico dourado. Muitas queridas dos arredores me desejaram, vivi das batalhas com o inanimado, mas todas, sem falta, se impressionaram. Não fui de botas, nem tive fixação por lasanha. Sou representante maior da condição libertária. Em vida vivo a última, a número sete. Por isso, disserto sem muito arrego, sinto-me velho e oportuno para qualquer desprezo. Meus donos já acionaram a idéia de ter algum outro no meu lugar e o que me resta fazer agora é aceitar um último banho frio que sempre recusei, sorrir pra ele e ele olhar pra mim, me abraçar na toalha felpuda e arranhá-la. Três pontos. Fui feliz, digo que fui e me unirei em morte a tantos gatos pardos que as pessoas contaram apaixonadas sob luares cinzas verticais de onde habitei meus anos todos. Gato morto irradiado pela vida-morte que o tomou. Arranhar céus. Infinitos pontos.

segunda-feira, março 10, 2008

Sob as sombras dos flamboyants

Perder a mulher pro corretor de imóveis me fez filósofo das causas pequenas já que além dessa e todas as outras perdas adjacentes resolvi me jogar debaixo das sombras dos flamboyants. Não tem nada de poético, não. Eu fiz por causa do sol, não dá pra suportar o calor de Fortaleza que faz em São Paulo e eu precisava me esgotar de todas as forças, me fazer coitado, me redimir com Deus, já que insistem que ele existe. João Paulo, esse mesmo que não era papa nem nada, de dois nomes me ajudou a afundar. Não gosto de prédios com nomes de mulheres como Yara e Gisele. Não me mudo pra edifícios assim. E na minha família, todo mundo é de dois nomes. Muito ruim Marco Antônio e João Paulo. O segundo, meu irmão e nem pergunte quem o primeiro é. Pois bem, escolhi a vida de mártir sem saber que as minhas unhas dos pés cresceriam e amarelariam tanto, envergariam. Isso lá é uma bela metáfora da cretina miséria de ter sido ultrapassado por um careca. Ainda bem, os males não foram tantos. Eu sou infértil. Isso é bom hoje em dia. Todo mundo se enfia na sua vida sem ao menos se importar com o que você acha. Quando eu não queria faculdade, por que eu não queria. Quando fiz pra calar, o que eu faria depois. Quando não arranjei emprego, quando arranjaria. Quando passei a namorar, quando seria o casamento. Me casei, cadê os filhos. Os filhos, cadê o futuro deles. Mas eu pulei essa parte. Eu fui pra sombra, fui me refrescar, me livrar das etapas que não me pertencem, quem sabe até eu retiro esse segundo nome ridículo. Quem sabe até ressuscito a minha avó, ela sim me daria um canto pra morar, sem me julgar, ai que lindo é amor de vovó. E no alívio, eu nem precisaria mais pensar em matar a puta que me fez tudo isso.

sexta-feira, março 07, 2008

Sapato cleck e a esperança branca

Suor, muito suor. Tira a mão daí. Mas a gente já fez de tudo. Quase tudo, tem coisa que ainda não. Veja bem, seus olhos são lindos, gosto de mãos e de olhos e de homens. Fez cara de entende. Confessei que não sou fiel a nenhum, fez cara de tudo bem. Eu sei que as mães não gostam de filhas que são assim, muitas são, mas fingem conveniência com o mundo todo, guardam puritanamente a moral (eu sei lá o que é isso). Mas acredite, 99% da população não pensa. Não sabe o quanto é bom viver na felicidade solitária. Isso tem que passar. Mas não vai. Já disse que tive muitos namorados, mas a minha vida é magnetizada pelos casos. Eu sou meio homem mesmo, fujo tão bem dos problemas quanto eles. Bando de maricas. Adoro esses maricas, principalmente os feios de mãos lindas, as mãos lindas o que eu faço com elas dentro de mim, dentro da minha cabeça. Suor, suor. Uma maravilha. Minha mãe continua o sermão, isso vai mudar. Ainda vou te ouvir que um deles te segura. Eu digo tentei mas acontece que vivo nos extremos, me isolo do mundo, fico um pouco gorda, vou ao cinema e choro sozinha na poltrona. Sempre acho que tem um fulano se masturbando ao meu lado. Que gente freqüenta aquele buraco às três da tarde? O mundo está cheio de punheteiros. Aí eu me apaixono por um descabeladinho, já casei com vários deles, tive vários sobrenomes desde a adolescência, mas acontece que não os suportaria. Eu os sugo, grudo, agarro, a gente chega nos oitenta e eu digo, sinto muito, seus olhos são lindos mas gosto de mãos e de olhos e de homens. Gosto de ser mulher louca e os homens dizem que odeiam as loucas mas eles se enganam. Eles amam as loucas, nós loucas. Não tomo nada, não sou do rock, outro dia dispensei um cinco minutos depois de entrar no carro. Disse pra ele, meu filho, adoro falar meu filho, querido eu sou a pessoa mais careta que você conhece. Broxou, tadinho. Perguntei o que ele tinha usado porque seus olhos estavam caídos, respondeu que nada mas topava. Pois não ouviu o que acabei de te dizer? Olha, faça o retorno ali na frente. É facinho, meu filho. Isso, vira. Não faz essa cara e me deixa em casa. Eu sonhei com você várias vezes. Pois faça terapia, meu filho. Eu não sou de se sonhar. Algo tá errado, não se boicote.
Mas é assim, a minha mãe me conta da vida com sua esperança branca de toda mamãe digna de chorar a falta de netos, de reclamar do marido parado. Eu já aconselhei, arranje um amante. Não estou brincando, 99% da população não pensa. Faz favor de pensar.
Agora vou descer a Augusta. Estou com esse sapatinho argentino, um número maior do que o meu pé. Ele faz cleck. Eu adoro porque todo mundo me vê chegar e eu quero mesmo que vejam meu cabelo água de salsicha. Era assim que falavam mal por trás de mim na faculdade. Eu achava excelente. Não suporto a idéia de não ter uma pessoazinha só nesse mundaréu de gente que não possa pensar bem ou mal de mim. Poxa, tem uns que perdem até tempo pra mandar e-mails anônimos e me xingar. Fico feliz, fico sim. Cabelo água de salsicha. Uma honra. Deve ser guardado com cuidado, muito carinho.

quinta-feira, março 06, 2008

às vezes me dizem
vai casar e ter filhos
às vezes respondo
de amor me basta
a Paulista

Ode à Arrogância

Despejou a pimenta mais ardida sobre toda a superfície pra ver se o cachorro desistia de comer a casinha inteira. A verdade é, o quadrúpede adorou. Lá se foram os quarenta e cinco reais. E eu, comendo pão francês com queijo derretido na chapa gritante da padaria do nordestino, me lambuzava toda de ranho e choramingo. Tem molho de pimenta, não? Disse que era forte. Pois saiba que gosto desse jeito mesmo. O barrigudo ao lado se ria todo, tapando com a mão o buraco da falta de dentes.
Arrogante, sempre me chamam disso quando reluto em fazer da forma que os outros querem. Mas as pessoas são muito cheias de idéias pra mim e eu sou muito cheia de mim, não preciso das idéias dos outros, já sofro demais no oceano das minhas próprias. E eu sou boazinha também, leio Boff, aprendi a acreditar no amor ao próximo, mas não pratico muito, só de vez em quando. Quando me sinto culpada porque o mundo tá todo cheio de lixo, as pessoas na Paulista andam como cascas de banana jogadas. Tudo é bem igual, acabou-se o lindo processo da individuação. Quantas horas discursei sobre isso, acreditava que só eu podia pensar naquelas coisas lindas de a gente se encontrar e se amar e ser feliz e não precisar de ninguém. Ah, a arrogância. Minha mãe já me ensinou, através de sua dependência toda, que não dá pra ser tão auto-suficiente. Mas eu gosto de invocar que dá. E invoco e o sol é infernizante e reclamo cadê-meu-computador. Eu tenho síndrome de Show de Truman.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Amados Acabados

Estouram os lados
Dos dias nublados
De pingos rasgados
De olhares marcados
Por dedos dourados
E fios melados

Os beijos selados
Por lábios lacrados
Os lençóis carimbados
Respiros cravados
De Amores amados
Amados acabados

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Práquê

Estava muito quente. Ele beijava meu queixo. Tocava a minha curva e beijava meu lábio de cima e beijava meu lábio de baixo. Como ter levado multa gravíssima, ter sido pega roubando no armazém da esquina. Como se alguém tivesse, acima de tudo, descoberto as minhas mentiras. E eu, que tenho pêlos no coração, fingia dormir na cama dele, que me puxava cada vez pra mais perto. Eu pensava me-larga. Uma pena, porque eu já estava gostando, de fato. Me pediu o telefone. Insinuei: prá quê? Me deixou em casa. Olhei: prá quê? Resmunguei tchau e alguns práquês.
Outro dia nos cruzamos. Ele beijava uma menina no queixo.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Carlos, o controle

Eu sinto que não posso conter. Conter o quê? O controle. Ele vai me escorregando. Mas é assim mesmo. Não, eu achei que não fosse. Eu gosto do útil. Em inglês é tão bonito: u-se-ful device! A praticidade me climatiza, eu respiro e sei que os objetos estão ali. Meu ventilador funciona bem. E quando eu preciso do telefone pra uma entrega, dos talheres na primeira gaveta. Mas aí penso no intangível, nos musgos de não tocar as coisas do sentir. É como um portal de caos e cosmos que eu não posso vigiar. O controle tão fora do meu dentro de mim e eu tão procurando tocar no rosto dele. Mas ele não tem rosto. Exato, e eu queria que tivesse. Ia chamá-lo Carlos. Credo. Credo nada. É nome comum, os dois começam com cê. E o meu controle Carlos eu ia levar pro trabalho e pra cama. Pra cama pra quê? Porque não gosto quando me tocam onde não gosto e isso sempre acontece comigo. O Carlos me resolveria. E no trabalho? É só porque trabalho é chato, que é com cê e controle e cama e Carlos também. Combinam, que é com cê também.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

O meu (não) gostar

Dizem que é preciso gostar de alguém. Mas eu não gosto de ninguém. Deixo isso pros outros, pros que acreditam. Todo logo cedo meu filho me puxa a blusa pra brincar. Eu não gosto dele. Não gosto da mãe dele. Eu sou nocivo. Eu vivo uma vida boa e não gosto dela. Não gosto da cor de manjar das cortinas da sala. Eu nunca saberia que existe cor de manjar. Isso é coisa dessa mulher com quem eu me casei e desgosto. O jeito como ela anda. A bunda dá soquinhos quando se locomove. Ela me pergunta se quero um café. Eu quero que você suma. No dia do nosso casamento eu já queria te deixar.
Mas eu sou ingrato. Eu vivo uma vida boa e não gosto dela. Ninguém sabe disso. Já fomos três vezes votados no condomínio como exemplo de família. Três anos consecutivos para quê? Eles não sabem que não gosto do porteiro, que eu comeria a vizinha inteira porque também não gosto dela. O meu cachorro, eu olho pra ele o domingo todo. A mulher me pergunta no que estou pensando. Eu sempre estou pensando o mesmo: eu não gosto de vocês. Mas não me movo de imediato. Miro a vista no jornal que deixo por perto e em seguida digo que estou pensando no nosso país. Isso. Ela sai. Ela é boa de desgostar. Ela não questiona. Eu gosto disso. De não gostar de quem me deixa não gostar. Por isso estamos aqui nesta mesma casa. Ela gostando de mim que não gosto dela. O meu filho também vai me desgostar e por isso eu já o desgosto. Eu gosto disso. De não gostar de quem também não vai me gostar. E o porteiro e a vizinha e o cachorro. Eles são mais fáceis ainda. Porque nunca vão saber. E eu gosto disso. De desgostar dos que nunca vão saber que nunca os gostei.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

O Telefonema

Olha só. Eu não costumo atender telefonemas. E não importa a hora. Mas ele me pegou num momento de desprevenção. Disse que seriam perguntas rápidas. Conheço essa gentinha. Nunca é rápido e nunca se deve concordar em atendê-las.
A enquete iniciou-se com muita boa vontade: sim, estou satisfeito com o atendimento ao cliente. Claro, claro. Nota de 1 a 5? Dou o máximo! Eu até acho que o serviço poderia melhorar eventualmente, mas no entanto para quê? Eu não vou procurar outro lugar, não. Dou cinco! Se eu uso a internet? Uso, sim. Estou online agora mesmo. He-he.
Quando passou da pergunta número 35, eu ria: moço, eu tenho compromisso às quatro! Mas se você quiser eu posso te ligar em um horário mais conveniente. Não, não. Rs. Vamos terminar logo. Manda!
O tempo se passava e as perguntas se fechavam na minha cabeça como quando a gente é criança e gira gira gira até cair sentado no chão. Sim. Não. Sim. Não. Pergunta de novo? Não... Hm. Não.
Tá terminando? Sei. Não. Não. Qual palavra eu definiria a empresa? Hm. Só dessas três opções? Moderna, então. Pode ser. Tanto faz. Eu não uso esse serviço. Aliás eu nem sei por que ele existe. Acho isso tudo uma grande... sei lá. Vai, fala. Você já fez essa pergunta. Você tá testando a minha paciência, tá? Você diz que está no final desde que começamos. É esse o meu nome, sim. Eu já havia dito. A minha idade? Pra quê? Claro que eu trabalho, seu idiota! Tá me chamando de vagabundo? E daí que eu moro com os meus pais? Não tem que confirmar nada, não. Chega com isso. Já me torrou todo. Se eu te ligasse pra fazer essas perguntas na certa você tinha desligado na minha cara. Aliás, você deveria estar pulando de felicidade porque eu devo ser o único trouxa dos últimos tempos que te atendeu, sabia? Você com essa voz de bixa falida. Ah, que obrigado-pela-preferência, o quê. Some.

domingo, fevereiro 10, 2008

Não vai haver tristeza quando eu disser. Vêm arco-íris e algumas nuvens em pó dentro de saquinhos vendidos nas bancas de jornal. Aí pessoas quaisquer suprirão estoques de felicidade em meio a tempestades devastadoras de relações.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Minhas Época

Época vem nos dicionário, vem com a gente, não. Era o que alguns bêbado dizia quando eu tava bêbado também. Mas num sou bêbado sempre, só às vez. E também num sou de freqüentar bar, porque lá tem muito dessa gente. Eu, aliás, queria ser estudado. Pelo menos posso dizer que tentei entrar na escola pra saber por que das gente beberem. Só que naquela época, era bem dessas época que eu bebia também. Não como agora, só de sábado e domingo. Eu bebia de quarta e quinta além desses dois dia. Então não deu certo. Fiquei sem compreender mesmo.
Mas eu ainda fumo. É melhor desse jeito porque aí não sinto que estou me matando sozinho. Tá todo o mundo se matando. Então é três maço por semana, quatro garrafa de final. Mulher eu não arranjei, porque naquela época era bem dessas época que eu gostava de várias mulher. Agora eu acho que não tenho época nenhuma porque num tenho bebida e num tenho mulher.
Na verdade, no fundo eu tô procurando uma época pra mim. Já tentei uma Igreja do lado de casa mas essa num é a minha época, não. Já fui no futebol do gramado, mas meu joelho já passou dessa época também. Aí fui ver o carteado na praça, mas acho que essa época num chegou ainda. Tem uma vizinha minha que pede pra eu olhar os filho dela de vez em quando e essa é a única época que eu acho que não tem época. Aí eu olho. E eu vejo nas criança as minha época de bolinha de gude e de bater nos outro. Depois disso eu sempre penso que queria poder voltar nessa época, onde a gente não sabe as que vem pela frente.

domingo, janeiro 27, 2008

2008 começou

Culpa branca. Ainda falta muito?, me pergunta. Desce o véu, como a cortina da minha infância. Quando eu tive um transtorno obssessivo compulsivo e todos acharam bonitinho. Não era bonitinho para mim. Vejo filmes sobre o assunto, não esclarece. E o véu, a grinalda vêm às noites. Uma transparência, uma falta de claridade mesclada com intensa luz. Não sei, este ano é mais um daqueles que eu fico achando que tudo vai mudar. Não muda. Os mesmos homens, mesmas figuras. É assim tão óbvio? Nada poético, devo dizer. Espero tantos sotaques, tantas nuances, vem nada não. Agora estou lendo, tentando me aprofundar, fingir que não participo do contemporâneo, esse mundo youtube. No entanto, vivo sim. Sou como aquelas pessoas bem disfarçadas, cheias de clones, de pessoas que também se acreditam assim.
E já que estamos nesta fábrica de Huxleys, vamos lá. Mais um ano entra, mais um sai. As rugas vêm, nada satisfaz.