quinta-feira, março 06, 2008

Ode à Arrogância

Despejou a pimenta mais ardida sobre toda a superfície pra ver se o cachorro desistia de comer a casinha inteira. A verdade é, o quadrúpede adorou. Lá se foram os quarenta e cinco reais. E eu, comendo pão francês com queijo derretido na chapa gritante da padaria do nordestino, me lambuzava toda de ranho e choramingo. Tem molho de pimenta, não? Disse que era forte. Pois saiba que gosto desse jeito mesmo. O barrigudo ao lado se ria todo, tapando com a mão o buraco da falta de dentes.
Arrogante, sempre me chamam disso quando reluto em fazer da forma que os outros querem. Mas as pessoas são muito cheias de idéias pra mim e eu sou muito cheia de mim, não preciso das idéias dos outros, já sofro demais no oceano das minhas próprias. E eu sou boazinha também, leio Boff, aprendi a acreditar no amor ao próximo, mas não pratico muito, só de vez em quando. Quando me sinto culpada porque o mundo tá todo cheio de lixo, as pessoas na Paulista andam como cascas de banana jogadas. Tudo é bem igual, acabou-se o lindo processo da individuação. Quantas horas discursei sobre isso, acreditava que só eu podia pensar naquelas coisas lindas de a gente se encontrar e se amar e ser feliz e não precisar de ninguém. Ah, a arrogância. Minha mãe já me ensinou, através de sua dependência toda, que não dá pra ser tão auto-suficiente. Mas eu gosto de invocar que dá. E invoco e o sol é infernizante e reclamo cadê-meu-computador. Eu tenho síndrome de Show de Truman.

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