sábado, abril 30, 2005

Amigdalite

Tentei balbuciar qualquer palavra por entre os lábios ressecados. Porém o organismo pudico reprimiu desaforado as cordas vocais e gritou: "Dou-lhe uma amigdalite, pois não!!"

terça-feira, abril 19, 2005

A Morte do escritor

Estarrecida tanta é a decepção. Poderia Yates descrever minha melancolia? Minha ausência nas linhas, minha indistinta sabedoria.
Já não há vias de disputar o espaço pelas palavras quando estas não mais me cabem o juízo. Da dor, somente mais uma descrição que peço ao poeta. Da lástima de finalização, desse divórcio entre a palavra e minhas mãos....
O momento nasceu diante meus olhos regados de arrogância desnuda. Venho a declarar que não sou mais tua, papel rascunho. Vai-te e me abandona com somente os livros de outrém. Para curar minha agonia de sonhar sozinha a busca infinita pela morte vazia.

segunda-feira, abril 18, 2005

Terapia

Único momento do dia em que não escondo as olheiras atrás de corretivo.

domingo, abril 17, 2005

Dilacerante coração: grita por ver os gênios decolarem e perder o vôo...

quinta-feira, abril 14, 2005

Lista Verde Jardinagem

Colher a planta verde
Retocar com cuidado
A maquiagem florida
Do jardim empetecado
Suplicar a São Pedro
Que a molhe com cuidado
Enquanto envelhece Verde
Enquanto encharca no terraço

quarta-feira, abril 13, 2005

Lista Amarelo Ovo

Quebrar o ovo amarelo
Amarelo de gema escorrida
Olhar para a tigela
E refletir sobre o vácuo
Gritar para Santo Antonio
Que a arraste pelo braço
Enquanto chora Amarelo
Enquanto procura namorado

Lista Vermelho batom

Jogar vemelho na boca
Vermelho nas unhas
E rir de dor
Pedir pra Virgem Maria Imaculada
Que a carregue nos braços
Enquanto dança Vermelho
Enquanto sangra em pedaços

terça-feira, abril 12, 2005

Diálogos I - Só você

- Você já amou?
- Já. E você?
- Amei só você.
- Eu também. Só você...
-Você já fez amor com outra pessoa?
-Não. Só sexo. Amor só com você.
-Eu também. Só com você.
-Você já se declarou para alguém?
-Já. E você?
-Só para você.
-Eu também.
-Você ja traiu alguém?
-Já. E você?
-Eu também. Mas não você...

segunda-feira, abril 11, 2005

Sem vírgula Sem graça

O denotativo estrangula o subjetivo
E a metáfora perde o passo
A síntaxe cai escada abaixo
Num bêbado relapso
Todos olham para o papel admirados!
Notam que a vírgula dessa história
Havia roubado a cena
Quis ganhar a narrativa
Pra aterrorizar a rima lenta
Justificou a safadeza
Pra uma autora preguiçosa
E de uma poesia mal feita mal feita mal feita
mal feita mal feita mal feita mal feita mal feita mal feita mal feita

Sem vírgula
Sem graça

sexta-feira, abril 01, 2005

Dores intermináveis

Não deu pra esperar a sua disposição pra vir atrás de mim. Resolvi fazer do meu jeito desequilibrado, como você mesmo diz. Deixei a casa aos avessos e gritei todos os péssimos nomes que encontrei pra te xingar.
Agora não vem mais pra perto. Descobri que sem você estou melhor. Por enquanto estou melhor. Porque não é tão triste assim ser uma pessoa triste.
Conheço muita gente triste. Estaria até beneficiando as estatísticas se pensar altruisticamente. Mas sei que não vai durar muito tempo. Porque não suporto sozinha. Preciso fazer alguém novo conhecer essa minha dor inerte. É preciso que sempre mais um reconheça que funciona desse jeito. Pra eu poder lamentar novamente e escrever isso novamente. Que sou triste, que sou dolorida, que gosto assim.