sexta-feira, abril 04, 2008

O bipolar

Principalmente quando me sinto assim e nem gostaria de ter que explicar, mas essa coisa de escrever quando está tudo indo muito bem não dá certo, nem um pouco certo porque veja bem, escrever é um grande sistema bipolar. Não tem nada de talento, são as dores intensas, muito maiores do que o quanto deveriam ser sentidas e as alegrias eufóricas, que passam por tão pouco por debaixo da porta ou um telefonema que chateia e te leva de volta para a montanha russa do depressivo. E você ri tanto, tanto mais do que os outros e os cachorros, até os bem feios são muito mais lindos. E você vê que algumas pessoas também são assim, mas ninguém nesse mundo divide nada além de lençóis e cheiro e às vezes uma coca-cola sem gás. E tem essas gentes, eu me impressiono, elas não sabem dizer se faz frio ou não, se o inverno é chuvoso ou como são os ventos do verão. Onde vivem que eu não vivo? Porque eu sei que quando o nariz escorre pode ser de pimenta ou de alguma coisa que foi entrando pra dentro da casa e depois pra dentro do corpo. E esse corpo, tão insatisfeito consigo, coitado do corpo, que é usado de armadura para não entrar o amor que chegará. O corpo acha que não porque é um corpo bipolar, ele não sente como os outros corpos, ele escreve as dores e, especialmente as dores, muito grato, estas lhe dão muito prazer.

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