terça-feira, março 11, 2008

Arranha-céus

Meu mundo por um par de cortinas de linho. Arranhar cortinas, ponto. Arranhar poltrona, dois pontos. Napoleão, com pompa ou sem, me aconcheguei muitas vezes num pinico dourado. Muitas queridas dos arredores me desejaram, vivi das batalhas com o inanimado, mas todas, sem falta, se impressionaram. Não fui de botas, nem tive fixação por lasanha. Sou representante maior da condição libertária. Em vida vivo a última, a número sete. Por isso, disserto sem muito arrego, sinto-me velho e oportuno para qualquer desprezo. Meus donos já acionaram a idéia de ter algum outro no meu lugar e o que me resta fazer agora é aceitar um último banho frio que sempre recusei, sorrir pra ele e ele olhar pra mim, me abraçar na toalha felpuda e arranhá-la. Três pontos. Fui feliz, digo que fui e me unirei em morte a tantos gatos pardos que as pessoas contaram apaixonadas sob luares cinzas verticais de onde habitei meus anos todos. Gato morto irradiado pela vida-morte que o tomou. Arranhar céus. Infinitos pontos.

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