quinta-feira, abril 09, 2015

não-morte

O novo não existe para mim de tão cíclicos que meus dias são. Me levanto, como sempre a mesma coisa, o almoço o mesmo, as tardes iguais, as gotas do remédio amargo, observar o entardecer como torcida de futebol que se agarra ao pé de coelho estrangulando para o gol. Abaixa sol, vem lua, vamos nos deitar. Se puder não amanhecer novamente, será grande milagre. Sou fraca até para o suicídio. Dizem que esse nosso tipo de gente normalmente se sabota pegando doença dos outros. Não cheguei a tanta sorte. Vivo da lamentação e de médico em médico. Pílulas garganta abaixo não funcionaria. Eu poderia não morrer e ficar com alguma dose de retardamento mental, culpa e a família me olhando  sem fim. Pular das alturas também me lembra um caso de uma pessoa que não morreu, foi parar no hospital e ficou toda torta na cama. Existe, sim, a possibilidade da não-morte. Eu sou prova disso. E não a chamaria de sobrevivência, porque quem sobrevive gostaria de poder viver. Quem não-morre, gostaria de morrer.