segunda-feira, agosto 04, 2008

As minhas Lágrimas de Dois Segundos

O dia não me permite lágrimas por mais de dois segundos. Às seis da manhã, o buraco no estômago e vai a primeira leva de dois. O corpo frágil se arruma então, pra um dia inteiro de contas regadas a pingos curtos. Às nove, o disfarce no metrô, ler o jornal com a cara enfiada, mas ninguém percebe mesmo as minhas lágrimas de dois segundos. O trabalho corre seco, fingido de sorriso. E tem a saída, voltar para o ônibus, caminho inverso. Outro cobrador, ótimo. Podem-se ir mais dois segundos. O andar arrastado pelas ruas que me fazem pensar nesse choro à prestação, causam meus próximos dois segundos. Comprar comida no nosso varejão, parar em frente ao prédio e o carro não estar lá me surram dois segundos. Abrir a porta do apartamento e não ter barulho, suspiro. Olhar pra tudo e pra nada, porque tudo foi retirado... Assustada, mais dois segundos. Não comer, não comer, não comer. Banho, água com dois segundos. Ir até a locadora, dois segundos. Andar na Paulista, dois segundos. Não receber telefonema, mais dois segundos. Subir pro trabalho novamente vestida de contente, cansa mais ainda. Fazer frio no ponto de ônibus e eu sozinha. Pensar em voltar pra casa, dois segundos. Todo o movimento noturno, mais triste sem o sol, a falta do carro, o elevador, a porta trancada, o não-barulho, a cama branca, eu deitada. Finalmente respiro: é a vez das minhas lágrimas mil vezes dois segundos.

2 comentários:

alessandra luvisotto disse...

por quê? :'(

Anônimo disse...

chorei 2 segundos, próximo post!