sexta-feira, novembro 27, 2009

Dois quarteirões

De manhã gosto de café na padaria dois quarteirões acima de casa. O cigarro me mostra cedo e díário que deveria parar de fumar. A subida é leve, o pulmão pesa e a consciência eu nem sei mais o que é isso. Deixei para trás os dias em que eu tinha interesse por mim mesmo. Agora caminho.
Quando adentro o recinto, ela está acomodada em seu banco fixo, onde o sol bate com feixe diagonal no balcão dos bêbados. Minha rotina é sentar-me na mesa de trás de onde vejo os cabelos de banho recente pesados nas costas e o ajeitar do shorts azul no meio das coxas, que eu sei que se chegar perto vão ter pontos de pêlos por fazer. Eu quero teus pêlos nos meus pêlos. Eu quero a brevidade de abrir o sutiã, de eu não te existir  e te querer por somente o tempo dos dois quarteirões que me levam até você.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Me esforçava, mas abri os olhos por não dormir, mirei o relógio que brilhava vermelho e me senti fracassada. Eu queria me rasgar de amor e o sono me observava de longe e eu não tinha ninguém para amar. Eu me amava sozinha  em dias de ensaio pra um espetáculo que não ia existir. Queria sentir o seco que fica na garganta quando acaba a água da conversa e os dois se olham, vira cena de filme demodé.
Eu sou antiga apesar de nova, sou atrasada pro contemporâneos casais que se apaixonam por precauções realistas. Eles dividem os mesmos gostos, ganham o mesmo salário, tratam-se como funcionários e agendam local e hora para o amor.