sexta-feira, fevereiro 15, 2008

O Telefonema

Olha só. Eu não costumo atender telefonemas. E não importa a hora. Mas ele me pegou num momento de desprevenção. Disse que seriam perguntas rápidas. Conheço essa gentinha. Nunca é rápido e nunca se deve concordar em atendê-las.
A enquete iniciou-se com muita boa vontade: sim, estou satisfeito com o atendimento ao cliente. Claro, claro. Nota de 1 a 5? Dou o máximo! Eu até acho que o serviço poderia melhorar eventualmente, mas no entanto para quê? Eu não vou procurar outro lugar, não. Dou cinco! Se eu uso a internet? Uso, sim. Estou online agora mesmo. He-he.
Quando passou da pergunta número 35, eu ria: moço, eu tenho compromisso às quatro! Mas se você quiser eu posso te ligar em um horário mais conveniente. Não, não. Rs. Vamos terminar logo. Manda!
O tempo se passava e as perguntas se fechavam na minha cabeça como quando a gente é criança e gira gira gira até cair sentado no chão. Sim. Não. Sim. Não. Pergunta de novo? Não... Hm. Não.
Tá terminando? Sei. Não. Não. Qual palavra eu definiria a empresa? Hm. Só dessas três opções? Moderna, então. Pode ser. Tanto faz. Eu não uso esse serviço. Aliás eu nem sei por que ele existe. Acho isso tudo uma grande... sei lá. Vai, fala. Você já fez essa pergunta. Você tá testando a minha paciência, tá? Você diz que está no final desde que começamos. É esse o meu nome, sim. Eu já havia dito. A minha idade? Pra quê? Claro que eu trabalho, seu idiota! Tá me chamando de vagabundo? E daí que eu moro com os meus pais? Não tem que confirmar nada, não. Chega com isso. Já me torrou todo. Se eu te ligasse pra fazer essas perguntas na certa você tinha desligado na minha cara. Aliás, você deveria estar pulando de felicidade porque eu devo ser o único trouxa dos últimos tempos que te atendeu, sabia? Você com essa voz de bixa falida. Ah, que obrigado-pela-preferência, o quê. Some.

Nenhum comentário: