sexta-feira, março 07, 2008

Sapato cleck e a esperança branca

Suor, muito suor. Tira a mão daí. Mas a gente já fez de tudo. Quase tudo, tem coisa que ainda não. Veja bem, seus olhos são lindos, gosto de mãos e de olhos e de homens. Fez cara de entende. Confessei que não sou fiel a nenhum, fez cara de tudo bem. Eu sei que as mães não gostam de filhas que são assim, muitas são, mas fingem conveniência com o mundo todo, guardam puritanamente a moral (eu sei lá o que é isso). Mas acredite, 99% da população não pensa. Não sabe o quanto é bom viver na felicidade solitária. Isso tem que passar. Mas não vai. Já disse que tive muitos namorados, mas a minha vida é magnetizada pelos casos. Eu sou meio homem mesmo, fujo tão bem dos problemas quanto eles. Bando de maricas. Adoro esses maricas, principalmente os feios de mãos lindas, as mãos lindas o que eu faço com elas dentro de mim, dentro da minha cabeça. Suor, suor. Uma maravilha. Minha mãe continua o sermão, isso vai mudar. Ainda vou te ouvir que um deles te segura. Eu digo tentei mas acontece que vivo nos extremos, me isolo do mundo, fico um pouco gorda, vou ao cinema e choro sozinha na poltrona. Sempre acho que tem um fulano se masturbando ao meu lado. Que gente freqüenta aquele buraco às três da tarde? O mundo está cheio de punheteiros. Aí eu me apaixono por um descabeladinho, já casei com vários deles, tive vários sobrenomes desde a adolescência, mas acontece que não os suportaria. Eu os sugo, grudo, agarro, a gente chega nos oitenta e eu digo, sinto muito, seus olhos são lindos mas gosto de mãos e de olhos e de homens. Gosto de ser mulher louca e os homens dizem que odeiam as loucas mas eles se enganam. Eles amam as loucas, nós loucas. Não tomo nada, não sou do rock, outro dia dispensei um cinco minutos depois de entrar no carro. Disse pra ele, meu filho, adoro falar meu filho, querido eu sou a pessoa mais careta que você conhece. Broxou, tadinho. Perguntei o que ele tinha usado porque seus olhos estavam caídos, respondeu que nada mas topava. Pois não ouviu o que acabei de te dizer? Olha, faça o retorno ali na frente. É facinho, meu filho. Isso, vira. Não faz essa cara e me deixa em casa. Eu sonhei com você várias vezes. Pois faça terapia, meu filho. Eu não sou de se sonhar. Algo tá errado, não se boicote.
Mas é assim, a minha mãe me conta da vida com sua esperança branca de toda mamãe digna de chorar a falta de netos, de reclamar do marido parado. Eu já aconselhei, arranje um amante. Não estou brincando, 99% da população não pensa. Faz favor de pensar.
Agora vou descer a Augusta. Estou com esse sapatinho argentino, um número maior do que o meu pé. Ele faz cleck. Eu adoro porque todo mundo me vê chegar e eu quero mesmo que vejam meu cabelo água de salsicha. Era assim que falavam mal por trás de mim na faculdade. Eu achava excelente. Não suporto a idéia de não ter uma pessoazinha só nesse mundaréu de gente que não possa pensar bem ou mal de mim. Poxa, tem uns que perdem até tempo pra mandar e-mails anônimos e me xingar. Fico feliz, fico sim. Cabelo água de salsicha. Uma honra. Deve ser guardado com cuidado, muito carinho.

Um comentário:

Anônimo disse...

ai cabelo de corte argentino e cor de salsicha que eu amo...
sapatinho cleck cleck, andar de patinho rescém-nascido, autonomia e carência reprimida que eu me apaixonei...
você vai se casar antes de mim.

=*