sexta-feira, outubro 17, 2008

Garota-propaganda

Eu dou passos largos de fuga de mim mesma, já que entrei em tanta mirabolante complicação que eu sei, mais uma vez, terei que escapar. E a única coisa que me acalma é arranjar um assento no ônibus, qualquer linha, nem que seja o lugar dos velhos e grávidas. Aí o cobrador sempre me avisa o ponto, eu desço e pego outro em seguida. Vez em quando os olhos caem e, baixos ainda, eu penso na gente, e dolorida, eu apago o coração como aquelas lousinhas mágicas de quando a gente é criança e fica a tarde toda esfregando a ponta da caneta até ela fundir de cor rosa choque. Eu sei que as coisas se tornarão mais simples porque eu busco a perdição, estou sempre pronta para o término e não entendo como as pessoas conseguem estar trinta-e-tantos anos juntas ou trabalhar no mesmo lugar por dezessete anos. Para mim, essas pessoas foram postas ali, desse jeito sempre estiveram e não sei não, se o álbum de fotografias delas não foi burlado por algum ser maior que me foge à perspectiva.
Eu vivo no mundo alien, que se incomoda com os hábitos e os traços da rotina que não podem, não podem e não terão vazão para virar rotina. Porque eu fujo de mim mesma e não é preciso entorpecentes para saber que o meu dolorido inconsciente flutua dentro de mim e eu nunca o alcanço. A minha irmã diz que é culpa do sol na casa doze. Eu não consegui investigar o que significava isso por falta de website. E quaisquer que sejam meus motivos, eu volto pra terapia. Eu sou a garota-propaganda da terapia. Eu exijo que no meu mundo perfeito todos sejam os perfeitos seguidores da perfeição perfeita. E ai de quem, aqueles que sob desaforo à minha regência, escorregarem em erros crassos de seres humanos. Ai deles, não quererem enxergar. Porque enxergar sem ser míope dói e no meu mundo ideal, estar disponível para a dor é estar disponível para não ter retorno. E não ter retorno é o que coça nos que procuraram transcender de espírito. E um dia eu vou, eu vou te convencer.

quarta-feira, outubro 08, 2008

A queda

Também disseram que os mitos me ajudariam. Era o que eu lia no momento, eu sofria por não enxergar, procurava respostas em horóscopos e frases mágicas que imprescindivelmente surgiriam nas entrelinhas das minhas conversas rotineiras com qualquer pessoa com que eu cruzasse. Eu acreditava que daria certo, que ele mudaria, que eu faria todo aquele papel já ensaiado. Mas eu continuava doída e doida.