sábado, agosto 28, 2010

Arrô.

de manhã, ronco ronco ronco. ai vem o horário certo, a vizinha estridente na janela, claudiaaaaaa. e me ergo por metade, pra promover a cortina pro sol, pra socar ele na minha cara seca de água sem beber e o cachorro pula em mim e me diz que quer sair. saimos, obrigada irmão-fogo, eu te honro e te reverencio, meus antepassados, perdão pelo o que eu possa ter feito, mas já tenho condições de caminhar sozinha e me vem os vômitos estúpidos das pessoas que se oferecem pra comentar o que acreditam ser o homem ideal pra mim. tipo assim. e eu sem saber, sem reação e isso não é comum pros meus últimos tempos. me sinto infantilóide quando acompanho os outros de nem saber onde é que tenho os pés no chão. mas é uma outra história, dessas que são mais problemas das outras gentes. e tão pouco agora penso que gostaria de cuidar dos outros, que eu gosto mais é de cuidar do meu cão, que se enrola preto e branco em mim e não me dá uma cesta de legumes podres pra segurar. como seria bom se todos falássemos cães e sentíssemos os cheiros lá de baixo uns dos outros e pudéssemos nos poupar de tão ridículas apresentações. e eu que também sou cão-não-cão, gosto muito de respirar novidades pitorescas, as árvores e os cheiros de ruas, andamos todos os sete até o fim do dia e obrigada irmão-fogo. eu te honro e te reverencio. me deixe só, me deixe cão. Arrô.

terça-feira, agosto 24, 2010

a dúvida do afeto

A dúvida do afeto, pensei comigo, era a dúvida de não responder, que eu perguntaria às pedras e minha mãe se intrometeria que ela poderia me ajudar, contanto que eu ouvisse seus conselhos matrimoniais e dividisse o pós-parto desse novo movimento, pra ela tão progressivo e pra mim com mais dúvida e mais pergunta e mais medo de não me entender. a revista dizia que casamento ainda dá certo, eu não sabia que não dava antes disso, e a dúvida do afeto, onde mora ele quando todo mundo precisa de uma aliança em círculo pra fechar o outro e se perder no alheio e passar anos a se confundir e perder as entranhas e não se reconhecer. aí de domingo meu pai ri com as piadas dessas de humor, dessas de jornal, dessas de domingo sobre o casamento falido feitas para homens acima de sessenta casados e com medo da morte e com medo de não ter feito nada por ter passado muito tempo trabalhando e cooperando com impostos. e eu que venho da vagabundagem, dizem todos, esses todos fora de mim, que o que eu faço é coisa de bundagem e vaga junto. aí forma isso o que eu faço, tão confuso para os outros, pra mim mais ainda, mas confortável de um jeito que eu nao me vejo longe dessa verdade de imaginação que me tira o sono quando não consigo abraçar tudo. e volto na dúvida do afeto que é a mesma infinita da aliança em círculo fechado no outro e quem é o outro a não ser eu mesma, quem é o outro que não existe a não ser na minha cabeça?

quarta-feira, agosto 18, 2010

tomara

tudo o que tenho visto, não sei o que fazer pra tirar de mim. as calçadas e mulheres que ficam permanentes em um lugar e o carrinho de supermecado na frente de uma loja que atravesso a rua quando vejo porque ele esta cheio de garrafas velhas e vazias, todas de bebida de alcool, me lembra meu alcool, o ruim que fica perto e eu vomito e tiro de mim e trago de volta o que eu queria ter separado um tempo ja. ai volta a lembrança e volta meu livro que nao sai da minha cabeça, e volta com tudo isso o amor que me falta, que me faz estar só, que me faz bem estar com os cães, a matilha deles é mais organizada por cheiros e o meu, quando nao tomo banho nao posso sentir, entao preciso de tres dias pra me misturar nesse grupo de pelos e de orelhas desmedidas.
caminho pelo sol, pra praticar a visao que me dizem faltar, mas quem diz é um medico que nao estudou o que eu estudei da vida dos olhos dentro de mim que sao mais pra dentro do que pra fora, sao pra baixo dos meus braços e ficam nas pontas dos dedos. aperto os botoes e aparece na tela o que eu nao consigo falar em palavra e daqui uns dias terei que forçar pra que esse coração de olho suba braço acima e caia no lugar certo da boca e adentre minha garganta. fala tudo, a professora agradece, sou aceita nos olhares de fora, que tambem tem olhos nos dedos e os dedos juntos das maos, podem aplaudir. tomara.