segunda-feira, junho 11, 2007

Esses meus lugares distantes

As minhas mãos tremem às vezes. Porque eu queria tanto ter sido tudo o que eu disse pras pessoas que eu era. Não que eu tivesse dito pra tantas. Eu contei pro Gandhi e pra ele, que são praticamente a mesma pessoa. E me amou de um jeito incompreensível. Meu Deus! Lânguida e odiosa quando ele acendia um cigarro no meio da madrugada, com aquela tosse rouca. O cinzeiro nunca vazio. Que raiva! Acordava e ficava me encarando com os dois redondos indo-asiáticos. Tinha vontade de gritar volta-a-dormir-deus-do-céu! Mas terminava a noite fingindo não notar o tal tragar. Principalmente porque aquele inverno trepidante me deixava muito alterada, sabe? Adorava ser capaz de não captar nada daquilo.
E ele chorou tanto quando eu fui embora... E eu chorei só pra acompanhar. Do tipo dueto, segunda voz que não aparece muito. Quando na verdade o único choro que eu sempre gostei vinha do sax. Desde nova, quando me mudei pra essa cidade falava: pô, tem aula de sax? Não. Mas tem de clarineta. Que lindo. Que similar. Que embocadura, que triste, que eu.
Agora está casado, com uma tal de Luísa, dessas musas de bossa nova. Eu vi numa foto, cor suor-polônia. Não gosto dos poloneses. Eles fedem picles. Adoram picles de tudo. Qualquer coisa verde, mergulhada num líquido de pote de maionese. Nunca entendi. Como ele me trocou por isso? Tá certo, não me trocou. Apenas seguiu. Viu as ofertas numa loja de departamento e comprou um clandestino igual. Não o culpo. Culpo a minha romântica inabilidade de contribuir pra uma história de final feliz.

Agora olho da sacada as luzes do prédio de INSS apagarem-se vez por vez, pensando na aliança que ele deu pra ela e não pra mim. Deve ter sido dentro desses petit-gateau, que eu adoro. Me ligou outro dia pra falar que poderíamos trabalhar juntos no restaurante que agora ele é chef. E eu seria sua subordinada. Talvez assim eu aceitasse. É bem mais fácil amar alguém indisponível...
E tem um outro, de quem eu gostei tanto e me rejeitou devido sua cativante cafajestice. Mas eu ouvia Jeff Buckley, suicida, e entendia todas as míseras palavras. Ah! Agora, com namorada e tudo, vem me resgatar do passado, dizendo vou praí!! Pedindo me manda foto tua porque agora tu tá mulher. E eu: só se for pra trepar propriamente. Implorando só se for pra você me amar e eu também.
Quando estou bem carente, me imagino de volta nesses meus lugares distantes, fazendo mais estrago. Dizendo que não queria mesmo, que era mixaria. Aliás, eu gosto mais ou menos assim. De sair correndo pra atender telefonemas que nunca vão ser pra mim. De falar pra essa multidão de gente que mora dentro de mim que o mundo é muito mais sozinho do que se pode pensar. De palestrar molhada de chuveiro que o amor num é pra quem sabe amar, não. Que é só pra quem ama e pronto.

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