segunda-feira, maio 28, 2007

Situações Inóspitas do Amor (já-não-sei-mais-que-parte)

- Você não tem tempo pra mim.
- Estamos aqui, não estamos?
- Não me importa. Já não é do mesmo gosto.
- Mas olha quanta coisa bonita. Gastamos um dinheirão pra passar a tarde com reclamação... Vamos aproveitar, benhê!
- Não me chama de benhê que fica forçado...
- E agora deu pra me cortar os apelidos? Depois de tanto tempo juntos, você não gosta mais que te chame de...
-Não é isso, Adolfo. Eu mudei, sei lá. Mudei! Agora tenho ambição.
-Ihhh... Tá cheirando a coisa ruim.
-Descobri que os homens não sabem nos levar à felicidade plena. Passei muito tempo da minha vida esperando que você me fizesse feliz.
- E eu não fiz? Vai cuspir?
- Você não entende. Nem pode entender, coitado. Nós fazemos parte de algo muito maior, de uma constelação complexa de eventos e...
-Nossa, deu pra falar bonito. Falando em estrelas e planetas.
- Quanta bobagem, Adolfo. Aliás, eu não falo do Universo. Estou falando de nós, as mulheres. A gente que é entendida do assunto. A gente que sabe o quanto nos falta atenção nesse mundo onde homem vem primeiro.
-Mas benhêee. Você é sempre primeira em tudo na minha vida.
-Talvez depois do futebol, depois que a sua comida está na mesa, depois que resolverem abolir a Playboy... Mas já não me importo. Pode ler. Porque você também não é mais primeiro na minha vida. Agora que eu mudei, que eu...
-Mudou como? Deu pra sair fazendo passeata com alto-falante, gritando feminismo e arrancando o sutiã ?
-Ai, como é duro falar com ser inferior! É sobre algo completamente pacífico. Que tomei juízo. Me enxerguei. Daqui em diante eu não vou mais viver para você. De agora em diante é pra mim. E você será apenas uma "partinha pequenininha" da minha existência.
-Eu não tô entendendo nada desse seu papo estranho. Mas te falo que contanto que não mude a nossa rotina, benhê. Faz o que você achar melhor. Por mim, tudo bem.
-Pois não é caso para dar opinião, sabe? Eu mudei e não tem volta. O bem que me fez ler aquele livro! Mas não espero compreensão.
- Olha, só sei que o piquenique ficou murcho. Você me confundiu com essa história de planetas mulher e... sei lá. Pesou.

Silêncio prolongado.

-Benhê... Eu te amo. Você é inteligente, mulher com opinião. Você sabe que te admiro, né?Sempre foi muito boa comigo. Me agüentou todos esses anos... E já que esclarecemos bastante coisa, que você me contou seus planos de se cuidar mais... Olha que estou orgulhoso, hein?!!
A moça sorri desconcertada, mas descruza os braços. Aos poucos vai se desarmando e recebe um beijo no pescoço:
- Então... Será que você não podia fazer um favorzinho?
-Hm.
-Coça as minhas costas um pouquinho só, vai???

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