quinta-feira, janeiro 06, 2005

Relacoes Funcionais IV

Na mesa do escritorio, 5 lapis apontados deitados paralelamente. Na parede do escritorio, um relogio de ponteiros cujo som de cada batida irritava quem entrasse pra conversar assunto serio.
A cadeira do escritorio, giratoria e de encosto muito alto, cobria com 3 palmos de sobra a cabeca do diretor. Este por sua vez, um nanico narigudo, tinha que saltar da cadeira pra alcancar os pes no chao. Costumava rodear o empregado que ali sentava quase se mijando de medo.
Hoje rodeava o grandao do Alex, rapaz responsavel pelas entregas das papeladas em dia. Como atualmente Alex na estava sendo muito pontual, o chefe o convidou para uma conversa intima naquele escritorio sombrio onde o relogio marca suas horas de vida na empresa.
Nao gritava na cara do jovem, mas fazia questao de imprimir uma voz arrastada e rouca, carregada de suspense e terrorismo. O coitado se encolhia como uma cadela prenha que faz forca pra retirar aqueles 5 filhotes de dentro dela. O rosto avermelhado com a dor de estar presenteando a situacao embaracosa, a cabeca repleta de pensamentos homicidas. Imaginava pegar aquele anao e torcer o bico do mamilo dele com uma chave inglesa. Amarrar aquelas perninhas de frango aos pes da mesa e arrasta-lo assim por toda a empresa. Usar a barriga de cerveja dele como saco de pancada. Quebrar aqueles 5 lapis ao meio porque talvez essa fosse a mais irritantes das reacoes.
Mas nao conseguia enfrentar o nanico narigudo. O pensamento esvaecia e retornava a ouvir aquela voz raivosa do chefe:
" Porque nesta empresa nao e' permi-ti-do... Repito: nao e' perrrr-mi-ti-do atraso. Se o senhor deseja atrasar o andamento da compainha, entao aconselho que mude de emprego. Arranje algo como organizar desfile da Sapucai todo ano...Entendido?? Aqui nao existe palhacada. Quem quer que seja que venha trazer pa-lha-ca-da para a empresa, eu aconselho a Sapucai do Rio de Janeiro. Compreendido??"
O rapaz nao conseguia nem tremer as cordas vocais afim de emitir um som qualquer, mas arriscou um "Sim senhor" bem baixinho.
E o anao insistia: "Eu nao te escuto. Esta compreendido ou nao???"
E o gigantao respondeu militarmente alto e claro: "Sim, senhor!!!"
"Entao por favor se retire porque nao temos mais o que conversar. Passar bem..."
O desengoncado Alex levantara-se todo grudando de suor e sem olhar pra cima retirara-se do escritorio.
O nanico narigudo mais uma vez intimidava e compensava a sua falta de altura. Porque todo nanico e' assim: folgado. E nao feliz por apenas ser folgado, tem que ser incisivamente centro das atencoes e respeitado por suas aquisicoes profissionais. Tudo para de certa forma compensar o que a natureza de sua genetica lhe falhou: tamanho suficiente para passar percebido.

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