quarta-feira, outubro 10, 2007

Aperto Gradativo

Ele sabia muito bem como encrustrar lentamente qualquer faca em mim. Lentamente, eu disse. Implorei minhas forças para que não, porém, sequer me deu ouvidos e foi logo intrometendo a ponta aguda por entre os meus seios. A superficialidade do corte não disponibilizava entender o início de tudo. Mas estava habituado a culpar nossas brigas. Eram elas o réu dos nossos problemas. Ele, a vítima. Eu, a insensata, a que abraçava causas vazias, a que as fazia aquecidas. Eu, que somente quis atenção. E o corte aprofundou-se quando já não estávamos mais tão próximos. Era como contar história alheia sem saber ao certo como expressar a situação. Tentar adivinhar sentimento e lidar com os sumiços esporádicos que ele ocasionava.
Foi quando resolvi que não nos entendíamos. Eu, reclamando ausência, ele reclamando trabalho. Eu, falando alvoroço e ele, falando traição. O desenfreado impedia o motor dar sua partida. E todas as condições tardavam em contribuir para encrustrar mais fundo agora a tenra faca. Pois assumi, enfim, auxiliar o suicídio-homicídio. Fiz com que o prazer fosse nosso. Como já não dividíamos respiro, que dividíssemos ao menos o gozo da minha ida. Que fizéssemos uma última vez a promessa dos que nunca se vão. Porque eu nunca soube ao certo como seria. Porque eu nunca soube como as coisas seriam se não tivesse optado por realizá-las.
19/abril/2005

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